“Os Sacramentos existem para aprofundar a nossa união com Deus; essa união não pode ser considerada sem levar em conta a sua raiz na união de Deus com Cristo. Hooker escreve: “Parece necessário que consideremos primeiro, como Deus está em Cristo, e então como Cristo está em nós, e como os Sacramentos nos fazem participantes de Cristo”. (51.1 Ecclesiastical Polity). Daí, Hooker faz um lúcido resumo do ensino Cristológico Patrístico, que tem como objetivo deixar claro que a encarnação – longe de ser um fato isolado sobre Jesus – representa, na verdade, a base para a renovação de toda a raça humana. Tal renovação não seria uma alteração total da natureza humana: Hooker nos desvia da idéia de Gregório de Nissa que a humanidade está de alguma forma dissolvida na divindade, perdendo a sua integridade no processo. Outrossim, Hooker nos lembra que na encarnação, Cristo conhece a “perda e detrimento” (54.5) da humanidade...
Para Hooker, é bastante importante negar a noção Luterana de que a humanidade de Cristo na sua condição glorificada se torna onipresente (teoria desenvolvida para esclarecer a doutrina Luterana da Eucaristia): tendo assumido um corpo humano real, a segunda pessoa da Trindade fica sempre unida com algo específico e material que passou por uma história específica (Hooker nota as “cicatrizes e marcas da mortalidade anterior” no corpo ressureto de Jesus, conforme a descrição no Evangelho de João)... Na encarnação, as duas naturezas não se misturam, mas existe uma continuidade absoluta e uma indivisibilidade de ação e efeito porque somente um só agente pessoal está em atuação (a segunda pessoa da Trindade)...
...Cristo atua em nós através da nossa comunhão com Ele pelo dom do Espírito Santo. Se o propósito da encarnação é restaurar a humanidade, a relação que nós temos com a humanidade de Cristo não pode ser limitada apenas à partilha formal da natureza humana; é uma relação com uma humanidade já transfigurada (e não destruída) pelo derramamento do dom divino.
...O erro dos Católicos Romanos no que diz respeito à Eucaristia trata-se menos da doutrina da transubstanciação em si, e mais da insistência que essa seja a única interpretação legítima de como Cristo age. Aqui vale comparar Hooker com o poeta George Herbert – o propósito da Eucaristia é a transformação de nós, não o pão. Hooker diz “há um tipo de transubstanciação em nós” (67.2); Herbert argumenta que Cristo morreu pela humanidade – não por pão – com efeito que é a humanidade que precisa ser mudada, mas, novamente, como Hooker também afirmava, sem destruí-la no processo.
Reação de Hooker aos puritanos e Católicos Romanos
... O conhecimento de Deus não depende da precisão teológica do tipo que os Puritanos buscavam; então, a vida ritual e mítica do cristão “normal” é defendida – mesmo que Hooker, como bom escritor Reformado, insiste que tal espiritualidade seja sujeita à crítica e que pode ser cortada onde contradiz os temas centrais da teologia de uma liberdade divina...
... É perfeitamente consistente para Hooker defender o Episcopado contra os ataques dos Puritanos na base de que não existe uma ordem eclesiástica pré-escrita no Novo Testamento... O fato de que a fé ortodoxa tem sido proclamada consistentemente numa Igreja Episcopal (principalmente durante os primeiro cinco séculos, o período formativo para a doutrina) sugere que a ação de Deus não fique impedida por essa estrutura; diferente, do desenvolvimento do papado que confunde o princípio central...”.