A Declaração de Montreal sobre a Essência do Anglicanismo, 1994
Afirmamos os seguintes pontos essenciais da Fe crista:
1. Cremos em um Deus Trino
Ha um só Deus que se auto-revelou como três pessoas, “de uma substancia, poder e eternidade”, o Pai o Filho e o Espírito Santo. Por causa do evangelho, rejeitamos qualquer proposta para modificar ou marginalizar estes nomes e afirmamos seu justo lugar na oração, na liturgia e no canto dos hinos. Pois o evangelho nos convida, pelo Espírito Santo a compartilhar companheirismo eternamente com o Deus trino, como filhos adotados na família de Deus na qual Jesus e por sua vez nosso salvador e nosso irmão.
(Det 6:4; Is 45:5; Mat 28:19; II Co 13:14; Gal 4: 4-6; II Tess 2: 13,14; I Ped 1:2; Judas 20,21. Ver Artigo I dos 39 Artigos, Livro de Oração Comum).
2. Cremos em Deus: Criador, Redentor e Santificador
O Todo-Poderoso Deus trino criou um universo que em todo sentido era bom ate a queda e confusão produzidas pela rebelião de suas criaturas. Havendo-se introduzido o pecado, Deus em amor se propôs restaurar a ordem cósmica com:
- o chamamento de um povo com o qual fez um pacto, ou seja, Israel;
- a vinda de Jesus Cristo para nos redimir;
- o derramamento do Espírito Santo para nos santificar;
- o surgimento e a edificação da Igreja a fim de cultuá-lo e testemunhar no mundo;
- a Segunda vinda de Cristo, em gloria, para fazer novas todas as coisas. Através da historia o desenvolvimento do plano de Deus tem se caracterizado por suas obras milagrosas.
(Gen 1-3; Is 40:28; Is 65:17; Mat 6:10; Jo 17:6; Atos 17:24-26, 28; I Co 15:28; II Co 5:19; Ef 1:11; II Tim 3:16; Hb 11:3; Ap 21:5. Ver Artigo I)
3. Afirmamos que a Palavra se fez carne
Cremos em Jesus Cristo
- o filho encarnado de Deus, nascido da Virgem Maria, em vida sem pecado,
- ressuscitado dos mortos corporalmente e agora reinando em gloria, embora presente com seu povo pelo Espírito Santo.
- Ele e ao mesmo tempo, o Jesus da historia e o Cristo das Escrituras.
- É Deus conosco e único mediador entre Deus e a humanidade, a fonte da salvação e o doador da vida eterna a Igreja universal.
(Mt 1:24,25; Mc 15: 20-37; Lc 1:35; Jo 1:14; 17: 20,21; At 1:9-11; 4:12; Rm 5:17; Fp 2:5,6; Cl 2:9; I Tm 2:5,6; Hb 1:2; 9:15. Ver Artigos II-IV; O Credo de Niceia).
4. Cremos em Jesus Cristo, O Único Salvador
O pecado humano e uma orgulhosa rebelião contra a autoridade de Deus. Se expressa em nosso desprezo a viver em amor tanto para com o Criador quanto para com suas criaturas. O pecado corrompe nossa natureza e seu fruto e a injustiça, a opressão, a desintegração tanto a nível pessoal como social. Portanto somos culpados diante de Deus.
- O pecado destrói a esperança e nos conduz a um futuro sem Deus e separados de todo o bem.
- O único que pode nos salvar da culpa, da vergonha e do poder do pecado e Jesus Cristo. Ele e o único que pode nos tirar do caminho do pecado.
- O arrependimento genuíno e a verdadeira Fe em Jesus são os únicos caminhos que nos levam a salvação.
Por seu sacrifício propiciatório na cruz por nossos pecados, Jesus venceu os poderes da escuridão e assegurou nossa redenção e justificação; por sua ressurreição corporal garantiu a futura ressurreição e a herança eterna dos que crêem; e pelo dom regenerador do Espírito restaura nossa natureza caída e nos renova a sua imagem. Portanto afirmamos:
- Em cada geração Ele e o caminho, a verdade e a vida para indivíduos pecadores e o único arquiteto e construtor da comunidade humana restaurada.
(Jo 14:6; At 1:9-11; 2:32,33; 4:12; Rm 3:22-25; I Co 15:20-24; II Co 5: 18,19; Fp 2:9-11; Cl 2:13-15; I Tm 2:5,6; I Pd 1:3-5; I Jo 4:14; 5: 11,12; Ver Artigos II-IV, XI, XV, XVIII, XXXI).
5. Cremos no Espírito de Vida
O Espírito Santo, “o Senhor e doador da vida”, enviado a Igreja pelo Pai e pelo Filho,
- revela a gloria de Jesus Cristo,
- nos convence do pecado,
- transforma nosso ser interior,
- nos leva a Fe,
- nos fortalece para viver com justiça,
- cria a comunhão,
- nos da poder para o serviço.
- O Espírito Santo transforma nossa natureza humana e nos da uma verdadeira antecipação dos céus. A unidade em amor dos cristãos e das igrejas plenos do Espírito Santo e sinal poderoso da verdade do cristianismo.
(Gn 1:2; Ex 31:2-5; Sl 51:11; Jo 3:5,6; 14:26; 15:26; 16:7-11, 13-15; I Co 2:4; 6:19; 12:4-7; II Co 3:18; Gl 4:4-6; 5:22-26; Ef 1:13-24; 5:18; I Tss 5:19; II Tm 3:16. Ver Artigo V; o Credo de Niceia).
6. A Autoridade da Bíblia
As Escrituras canônicas do Antigo e Novo Testamento são “a palavra de Deus escrita”, inspirada e autorizada, verdadeira e confiável, coerente e suficiente para a salvação. “A Palavra de Deus escrita” tem vida e é poderosa como guia divino tanto para a conduta quanto para a Fe crista.
A Fe trinitária, Cristocentrica, orientada para a redenção, que se encontra na Bíblia, esta encarnada nos credos universais e nos documentos anglicanos fundamentais. Em cada época, o Espírito Santo conduz o povo de Deus, a Igreja, a submissão as escrituras como seu guia. Para isso, usa sempre como ponto de referencia o respeito as santas tradições, o uso humilde da razão humana e a oração.
A Igreja não pode se constituir juiz das Escrituras, descartando e selecionando ensinos. As Escrituras mesmas, sob a autoridade de Cristo, julgam a Igreja no que tange a sua fidelidade a verdade por ele revelada.
(Dt 29:29; Is 40:8; 55:11; Mt 5:17,18; Jo 10:35; 14:26; Rm 1:16; Ef 1:17-19; II Tm 2:15; 3: 14-17; II Pd 1:20,21. Ver Artigo VI- VIII, XX).
7. A Igreja de Deus
Aquela sociedade sobrenatural denominada “a Igreja” e;
- a família de Deus,
- o corpo de Cristo,
- o templo do Espírito Santo.
E a comunidade dos crentes, justificados pela Fe em Cristo, incorporados a vida ressurreta de Cristo e posta sob a autoridade das Sagradas Escrituras como a palavra de Cristo. A Igreja na terra esta unida por meio de Cristo a Igreja dos céus, na comunhão dos santos. Através do ministério da Igreja, ou seja, da palavra e dos sacramentos do evangelho (o Batismo e a Santa Comunhão), Deus ministra vida em Cristo aos fieis, e desta maneira capacitando-os para a adoração, para o testemunho e para o serviço.
Na vida da Igreja só se deve sustentar como essencial para a salvação aquilo que pode ser comprovado pelas Escrituras. O não essencial não deve ser requerido de ninguém como crença, nem exigido como matéria de doutrina, disciplina ou culto.
(Ef 3:10-21; 5:23,27; I Tm 3:15; Hb 12:1,2; II Tm 3:14-17. Ver Artigo XIX, XX e XXI).
8. A Nova Vida em Cristo
Deus fez os seres humanos com sua imagem divina para que pudessem glorificá-lo e gozá-lo para sempre. Desde a queda que o pecado nos alijou a todos de Deus e trouxe confusão as nossas motivações e ações. Assim como a propiciarão e a justificação nos restauram a comunhão com Deus e nos perdoa o pecado, a regeneração e a santificação também nos renovam a imagem de Cristo, para podermos vencer o pecado. E o Espírito Santo quem nos ajuda a levar uma vida disciplinada e a praticar as disciplinas cristas. Nos transforma, através das mesmas, de forma crescente.
Não nos e outorgada neste mundo a ausência total do pecado, nem a nível pessoal, nem na Igreja nem na sociedade. Os cristãos seguirão sendo defeituosos “em pensamentos, palavras e obras” ate serem aperfeiçoados no céu.
(Gn 1:26-28; 3; Jo 3:5,6; 16:13; Rm 3:23,24; 5:12; I Co 12:4-7; II Co 3:17,18; Gl 5:22-24; Ef 2:1-5; Fp 2:13; II Pd 3:10-13. Ver Artigos IX-XVI).
9. O Ministério da Igreja
O Espírito Santo outorga dons diferentes e distintos a todos os cristãos, com o propósito de glorificar a Deus e edificar sua Igreja em verdade e amor. Todo cristão recebe em seu batismo um chamado a ser um ministro, seja qual for seu gênero, raça, idade ou condição socioeconômica. Cada filho de Deus deve desenvolver seus dons na forma do serviço para o qual Deus o chamou e equipou.
Dentro do sacerdócio de todos os crentes, honramos o ministério da palavra e dos sacramentos, para os quais sao separados principalmente os Bispos, Presbíteros e Diáconos.
(Rm 12:6-8; I Co 3:16; 6:11; 12:4-7,27; II Co 5:20; Gl 2:16; Ef 4:11-13; I Tm 3:1, 12,13; 5:17; Hb 2:11; I Pd 2:4,5,9,10. Ver Artigo XIX, XXIII).
10. O Culto da Igreja
O chamado primordial da Igreja, como de cada cristão, e oferecer culto, em Espírito e em verdade, ao Deus da criação, da providencia e da graça. As dimensões essenciais do culto são a adoração e a ação de graças por todas as coisas boas, a proclamação e celebração da gloria de Deus e de Jesus Cristo, a oração pelas necessidades humanas e pelo avanço do reino de Cristo, e o oferecimento de nos mesmos como sacrifícios vivos. Todas as formas litúrgicas ? sejam informais, escritas, musicadas ou cerimoniais – devem desenvolver-se sob a autoridade das Escrituras.
O Livro de Oração Comum prove um padrão doutrinal fundado na Bíblia, e deve ser guardado como a norma para toda alternativa litúrgica. Não devera ser revisado drasticamente, em um clima de confusão teológica como o que se encontra em muitas partes das Igreja contemporânea.
Nenhuma forma de culto pode exaltar a Cristo verdadeiramente nem lhe promover uma devoção verdadeira sem a presença e o poder do Espírito Santo. A oração, publica e privada, e central para a saúde e renovação da Igreja. A oração para a cura divina, tanto espiritual quanto física, e um bom elemento do culto anglicano.
(Jo 4:24; !6:8-15; At 1:8; 2:42-47; Rm 12: 1; I Co 11:23-26; 12:7; II Co 5:18,19; Ef 5: 18-20; Cl 3:16; I Tess 1:4,5; 5:19).
11. A Prioridade do Evangelismo
Evangelizar significa proclamar a Jesus Cristo como Salvador divino, Senhor e Amigo, de maneira a convidar as pessoas a se aproximarem de Deus por meio dele, a render-lhe culto e a servi-lo, e a buscar o poder do Espírito Santo para sua vida de discipulado na comunidade da Igreja. Todo cristão e chamado a testemunhar de Cristo, como sinal do amor que temos a Ele e ao próximo. A tarefa, que e um assunto prioritário, demanda treinamento pessoal e uma constante busca por métodos apropriados para atingir uma comunicação persuasiva e convincente. Nos semeamos a semente e esperamos que Deus envie o fruto.
(Mt :13-16; 28:19,20; Jo 3:16-18; 20:21; At 2;37-39; 5:31,32; I Co 1:23; 15:2-4; II Co 4:5; 5:20; I Pd 3:15).
12. O Desafio da Missão Mundial
Segue sendo necessário responder a Grande Comissão de Jesus Cristo com um compromisso evangelístico e com um cuidado pastoral que vá alem de nossa própria cultura. A ordem de Jesus Cristo em pregar o evangelho por todo o mundo, de fazer discípulos e plantar igrejas, continua em vigência. A missão deve caracterizar-se pelo serviço.
Cristo e sua salvação tem que ser proclamado em todo lugar com sensibilidade, porem energicamente, tanto em nosso pais como no estrangeiro. A missão transcultural tem que ser apoiada com oração, generosidade e ofertas, e envio de missionários. A missão global envolve companheirismo e intercambio.
(Mt 28:19,20; Mc 16:15; Lc 10:2; Rm 15:23,24; I Co 2:4,5; 9:22,23; II Co 4:5; 8:1-4,7; Ef 6:19,20; Fl 2:5-7; I Tss 1:6-8).
13. O Desafio da Ação Social
O evangelho constrange a Igreja a ser “sal” e “luz” do mundo e a mostrar coerência em sua vida diária e nos ensinamentos bíblicos para que se ordene corretamente a vida social, econômica e política e para que haja uma boa mordomia da criação. Os cristãos devem se preocupar pela causa da justiça e em fazer atos de compaixão. Embora não se possa identificar nenhum sistema social com o Reino de Deus, a ação social e parte integrante de nossa obediência ao evangelho.
(Gn 1:26-28; Is 30:18; 58:6-10; Am 5:24; Mt 5:13-16; 22:37-40; 25:31-46; Lc 4:17-21; Jo 20:21; II Co 1:3,4; Tg 2:14-16; I Jo 4:16; Ap 1:5,6; 5:9-10. Ver artigo XXXVIII).
14. O Novo Começo
Juntos reafirmamos nossa confiança no cristianismo anglicano que se expressa nos padrões históricos dos credos ecumênicos, nos Trinta e Nove Artigos e no Livro de Oração Comum. O respeito por estes padrões reforça nossa identidade e comunhão. Como pecadores, reconhecemos que em principio fomos desobedientes ao Senhor da Igreja. Com ajuda de Deus resolvemos guardar nossa herança e transmiti-la intacta e integralmente. Esta plenitude de Fe e necessária tanto para a renovação anglicana quanto para a proclamação eficaz das Boas Noticias de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.
Convidamos a todos os anglicanos a se unirem a nos, afirmando que esta declaração contem o essencial da Fe para o discipulado e a pratica crista para nossos dias. Nesta declaração cremos estar insistindo somente naquilo que e genuinamente essencial. No que tange ao não essencial, devemos pedir a graça do Senhor para reconhecer e respeitar a liberdade dos outros que tem caracterizado tradicionalmente nossa herança anglicana.